Exercícios físicos e ansiedade: como o movimento pode regular seus hormônios

exercícios físicos e ansiedade

A relação entre exercícios físicos e ansiedade é um dos pilares que mais enfatizo no consultório, pois representa uma das intervenções mais eficazes e acessíveis para a modulação da saúde mental. 

Longe de ser apenas uma distração, o movimento do corpo aciona uma cascata de reações bioquímicas capazes de regular os hormônios que orquestram nosso humor e nossa resposta ao estresse.

Muitos pacientes relatam sentir um alívio quase imediato após uma sessão de treino, mas os benefícios de longo prazo são ainda mais significativos. Entender como a prática regular de atividade física atua diretamente no seu sistema endócrino e nervoso é fundamental para utilizar essa ferramenta de forma consciente e potente. 

A abordagem correta da dupla exercícios físicos e ansiedade transforma o ato de se mover em uma estratégia terapêutica.

O desequilíbrio hormonal por trás da ansiedade

A ansiedade, do ponto de vista fisiológico, está frequentemente ligada a um desequilíbrio no eixo HPA (Hipotálamo-Pituitária-Adrenal), o principal sistema de resposta ao estresse do nosso corpo. Em um estado de alerta constante, há uma produção excessiva de cortisol, o chamado “hormônio do estresse”.

Níveis cronicamente elevados de cortisol podem levar a:

  • Sensação de estar sempre “ligado” ou em perigo.
  • Dificuldade para dormir e relaxar.
  • Compulsão alimentar, muitas vezes ligada ao desejo por alimentos ricos em açúcar e gordura.
  • Supressão do sistema imunológico.
  • Dificuldades de memória e concentração.

O objetivo de uma boa gestão da relação entre exercícios físicos e ansiedade é justamente regular esse eixo, ensinando o corpo a ter uma resposta mais equilibrada ao estresse.

Como o exercício age como um regulador hormonal

Quando você pratica uma atividade física, seu corpo não está apenas queimando calorias; ele está promovendo uma verdadeira “faxina” hormonal.

1. A modulação do cortisol

Inicialmente, o exercício agudo (uma única sessão) é um estressor e pode até aumentar os níveis de cortisol temporariamente. No entanto, com a prática regular, o corpo se adapta. Ele se torna mais eficiente em lidar com esse estresse controlado, o que resulta em níveis mais baixos de cortisol em repouso. Uma meta-análise publicada na revista Psychoneuroendocrinology demonstrou que a atividade física regular está associada a uma menor reatividade do cortisol ao estresse psicossocial.

2. A liberação de endorfinas e endocanabinoides

As endorfinas são neurotransmissores opioides produzidos pelo corpo, famosos por seu efeito analgésico e de bem-estar. São elas as responsáveis pela sensação de euforia que algumas pessoas sentem após uma corrida, por exemplo.

Além delas, o exercício estimula a produção de endocanabinoides, substâncias que atuam nos mesmos receptores cerebrais que a cannabis. Elas têm um efeito ansiolítico potente, promovendo relaxamento e calma. Essa é uma das descobertas mais interessantes no campo que estuda exercícios físicos e ansiedade.

3. O aumento do BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro)

O BDNF é uma proteína que atua como um “fertilizante para o cérebro”. Ele promove a sobrevivência dos neurônios existentes e estimula o crescimento de novos, um processo chamado neurogênese. Níveis baixos de BDNF estão associados à depressão e ansiedade. O exercício, especialmente o aeróbico, é um dos mais potentes estimuladores naturais de BDNF, o que melhora a resiliência do cérebro ao estresse. Uma revisão publicada na Frontiers in Psychiatry destaca o papel do BDNF como um mediador chave dos efeitos ansiolíticos do exercício. 

Os melhores exercícios para o controle da ansiedade

Não existe uma única resposta, mas podemos categorizar os exercícios pelos seus principais mecanismos de ação. A combinação inteligente entre eles costuma trazer os melhores resultados.

  • Exercícios aeróbicos (Corrida, ciclismo, natação): são os mais estudados e eficazes para a liberação de endorfinas, endocanabinoides e BDNF. A prática contínua de intensidade moderada é excelente para a regulação do humor a longo prazo.
  • Treinamento de força (Musculação): além de seus benefícios para o emagrecimento e ganho de massa, como detalhado no artigo sobre dieta e hipertrofia, o treino de força melhora a autoeficácia e a confiança, fatores psicológicos que combatem a ansiedade. Ele também melhora a sensibilidade à insulina, o que ajuda a estabilizar os níveis de energia e humor.
  • Práticas mente-corpo (Yoga, Tai Chi): estes exercícios combinam movimento, respiração e meditação. Eles são particularmente eficazes para ativar o sistema nervoso parassimpático, o sistema de “relaxamento e digestão” do corpo, diminuindo a frequência cardíaca e a pressão arterial em tempo real.

A chave é a consistência. Integrar diferentes tipos de movimento na sua rotina é a melhor estratégia para gerenciar a complexa relação entre exercícios físicos e ansiedade.

Construindo um plano de ação: exercícios físicos e ansiedade na prática

Para que o exercício se torne um hábito sustentável, é preciso planejamento.

  1. Comece devagar: não tente compensar o tempo perdido. Comece com 20 a 30 minutos, 3 vezes por semana, e aumente gradualmente a duração e a intensidade.
  2. Escolha algo que você goste: a adesão é o fator mais importante. Se você odeia correr, não se force. Tente dança, artes marciais, escalada ou uma caminhada na natureza.
  3. Monitore seus sentimentos: preste atenção em como você se sente antes, durante e depois do exercício. Reconhecer os benefícios imediatos no seu humor é um poderoso motivador.
  4. Integre com outras estratégias: o exercício é uma ferramenta poderosa, mas funciona melhor quando combinado com uma boa noite de sono, uma alimentação balanceada e, se necessário, acompanhamento psicológico e médico. O controle da ansiedade muitas vezes anda de mãos dadas com um estilo de vida saudável, o que inclui a busca por um peso corporal adequado, tema que abordo neste artigo.

A evidência científica é clara: a gestão de exercícios físicos e ansiedade é uma das abordagens não farmacológicas mais eficientes que temos. Trata-se de usar o próprio corpo para regular a si mesmo.

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